quarta-feira, 11 de julho de 2012




O MAIS BELO SORRISO!
Era agosto de 2008, começava o primeiro dia de trabalho em uma empresa na cidade de Anápolis. Estava muito inseguro, respiração ofegante, mãos trêmulas, suadas, precisava haurir forças para começar a labuta.Inexperiente, chegava cerca de uma hora e meia mais cedo para preparação das aulas. Era professor, estava cursando Letras, segundo ano desse curso. Lembro-me da brisa daquela tarde, gostava de sentar debaixo de uma árvore, ouvir os pássaros cantar, ver as pessoas transitar... E eu, pensar. Foi nessa rotina que dias após, tive a visão que os meus olhos não atinavam direito, fora um dos momentos mais belo que até hoje vivi...
...Deparei-me com um belo rapaz, louro, altura mediana, magro, composto por um uniforme azul, que contrastava com a sua pele, os seus olhos. Seus olhos evocavam doçura, simplicidade, bucolismo, ele sorriu e me disse “boa tarde!”. Naquele instante senti-me como se tivesse ido ao paraíso, embora o jovem usasse aparelho de correção ortodôntica à época, seu sorriso não era menos belo por isso, era simplesmente o mais esplêndido sorriso que já vira. Queria saber o nome daquele belo homem, que fitava os meus olhos como se soubesse quem eu era, a impressão que tinha era que dissecava os meus recônditos mais abissais da alma, era um misto de perturbação, temor, empatia e um sentimento indefinido por mim. Descobri o seu nome, era um belo nome, fazia jus à sua beleza e simplicidade.
O tempo foi passando, nos aproximamos e um dia sonhara que éramos conhecidos de outras vidas, a sensação vivenciada por tal sonho era de que havia um reencontro, mas um reencontro conturbado, pois, percebia que havia algo que impedia-nos de dizer o que vinha em nossa alma... Em minha memória, ainda ecoa o riso natural daquele rapaz, a inteligência sagaz e o olhar, que é uma das coisas marcantes que me fascinara. Lembro-me também que este rapaz gostava muito de torta de maracujá, servi a ele em minha casa, num encontro dominical. Recordo-me também que este homem gosta do bucolismo, pensa muito e que tem muitos sonhos... Quer vencer!
...O que sentira naquele momento era algo incompreendido pelas pessoas que só viam a matéria, a carne. Era um sentimento que ultrapassava o egoísmo, a superficialidade, o material, o frugal, o efêmero. Eram sensações, emoções que não sabia explicar, queria senti-las e desejava que não acabasse mais. Percebia desde muito cedo, que o mundo não compreende o amor entre  iguais. Para mim não importava, sabia que éramos mais que carne e osso, éramos seres espirituais e como tais, dotados de respeito, de amor, de cumplicidade e muita sinceridade... A nossa relação de amizade era muito forte!
...Um dia, tivemos um dos mais belos domingos de nossas vidas, fomos dedicar parte de nosso tempo aos mais necessitados de amor, carinho e cuidado, fomos à casa de assistência aos portadores de hanseníase, eram pessoas excluídas social e afetivamente do lugar que vivem. Via no sorriso daquele jovem felicidade nunca vivenciada por ele, vivenciamos uma catarse provocada pela ajuda mútua dedicada aos mais necessitados. Cantávamos, sorríamos e parabenizávamos os aniversariantes daquele mês, era agosto de 2010, aniversário também do rapaz dono do mais belo sorriso que já conheci, este nascera em dois de agosto, no ano de mil novecentos e oitenta e cinco, leonino, forte e sedutor...  
...Ao pensar nos irmãos de jornada que vivem à margem, vejo que a exclusão também estava muito próxima de mim. Também fora excluído, a diferença era que a exclusão foi por amar um  igual. A distinção entre mim e os portadores da doença da exclusão, era que estes poderiam exteriorizar as suas mágoas, as suas derrotas, as suas decepções e tristezas, e, eu não, não poderia dizer para a sociedade que amava um homem, pelo menos este não, as famílias não aceitariam dois homens felizes de forma não convencionada, alguém tinha de pagar o preço, eu paguei, fiquei em silêncio, num mutismo que só era dor...
O louro rapaz também preferiu o mutismo, a distância física, a negação, e eu respeito isso. Para mim o que importa é saber que somos seres espirituais e que as emoções, os sentimentos, as ações, perpassam o tempo e o espaço. Os deuses permitiram que conversássemos por horas ao telefone, consentiu que vislumbrássemos a Lua Cheia às onze horas da noite e que nos dispuséssemos para ambos a confiança, a amizade e o respeito, acima de tudo. O sentimento está aqui, em profundos abismos que só a minha alma sabe onde está e você, mas o importante é que saiba o quanto és amado e o quanto o respeito. Lembre-se ao ler esse desabafo: “boa noite... ‘bom dia’, ‘boa tarde’, jamais esquecerei de você”...  
                                                                           by Aldo Fernandes!

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