quarta-feira, 3 de dezembro de 2014


Lembro-me do ano de 1997, quando passava na porta da Uniana, futura Universidade Estadual de Goiás (1999) e sonhava em fazer parte daquele espaço acadêmico. Entrei naquele ambiente e visualizava as pessoas sempre correndo com os seus livros e saberes. Ainda que houvesse parado de estudar regularmente em rede básica de educação, sempre tive muita curiosidade em aprender e, instruir-se para mim se perfazia em todos os sentidos, seja com a escuta do outro, a observância do mundo etc. Lia uma média de 100 livros ao ano porque sempre fui muito fascinado pelo universo paralelo que os livros proporcionam, embora leitor tardio, pois o primeiro livro lido foi aos treze anos de idade. Ao terminar o ensino médio em 2004 no Colégio Estadual José Ludovico de Almeida, cuja escola atualmente sou professor efetivo estadual e após descanso de dois anos, resolvi cursar Letras, conquanto quisesse Letras/Francês, segui Letras/Inglês, deixando a Psicologia (curso que me fascina e sempre foi o meu sonho) em segundo plano. No ano de 2007 adentrara os portões da Universidade Estadual de Goiás para dar início ao curso acadêmico na cidade de Inhumas-GO, local que saíra com a família aos quatro anos de idade rumo à Anápolis-GO. Estava inseguro e encantando ao mesmo tempo com tudo que divisava. Conheci pessoas maravilhosas, dentre elas, Pedro, Leandro, Celina, Aline, Sergio, Henrique. Com essas joias foram momentos de intensos risos e discussões profícuas na praça defronte àquela instituição. O cheiro bucólico da cidade, o café feito no coador de pano da dona Maria, o alho (que adoro) em neblina matinal e o cheiro de pasto molhado quando chovia, até hoje inebriam os meus sentidos. Confeccionei naquele ano inicial de curso o meu primeiro texto acadêmico para o professor Me. Wilmar Faria sobre o filme “Os deuses devem estar loucos”. Ao entregar a resenha ele disse-me algo que marcara para sempre o meu pensamento –A  sua escrita denota que você tem muito potencial para fazer um mestrado. Sorri sentindo-me importante, pois havia chegado na 41ª vaga do curso, era aluno de segunda chamada no vestibular e isto era um rótulo social. Não dei muita importância após o êxtase de sua fala e segui adiante. Um dia, foram comigo até a UFG participar de evento na Faculdade de Ciências Sociais, os meus queridos amigos Léo e Pedro. Ao ver a magnitude da UFG fiquei extasiado e pensei: quero um dia estudar aqui. O tempo passou, transferi em 2008 para a cidade de Anápolis e conheci a professora Dra. Keila Matida com quem tive o presente de conviver alguns meses. Um dia, a docente em conversa deliciosa, como tantas outras nos corredores da universidade, disse-me que seria ainda uma pessoa de sucesso e que via um caminho de muita coisa boa trilhado por mim. Neste ínterim, queria desistir do curso porque pensava não haver afinidade com o curso de Letras e a professora Dra. Glaucia Vieira falou –Ah, não vá desistir do curso Clodoaldo, porque você já é um professor. Aquelas palavras ecoaram abruptamente de tal maneira, que não consegui responder nada. Também tive a honra de conhecer a professora Dra. Ivonete Bueno que mostrou novo sentido para a área de Letras, com as suas lentes discursivas foucaultianas atentas e transgressivas, percebi que poderia ser “um mais” na vida –ela adorava citar Foucault. No dia da minha defesa do TCC, antes de adentrar a sala a pesquisadora continuou –Será um sucesso, não se preocupe, você compreende do que fala porque estudou. Realmente ela sabia das coisas. Dentre tantas outras conversas, duas ficaram marcadas no discurso da querida professora e agora amiga, quando disse-me –Clodoaldo ao trafegar em Paris só vejo você sentado naqueles bancos, andando naquelas ruas e contemplando a paisagem. Você vai muito longe, não te vejo aqui por muito tempo, ouça o que digo. Diante do que foi dito eu somente sorria e os olhos brilhavam como sempre pelo amor inexplicável por aquele país e aquela cidade. Lembro-me de outro dia, ao despedir-se de mim momentos antes de embarcar/mudar-se para a Irlanda, em Galway, Ivonete disse em uma sala na UEG –Você não deixe de estudar, fazer o seu mestrado e depois o doutorado, porque não haverá lugar que satisfaça a sua curiosidade em aprender. Não tenha medo porque ninguém será páreo com você, te conheço e sei do que falo. Você é um ser que nasceu para trazer brilho por onde passa e é isso que faz de você único. Emocionei-me muito com aquelas palavras traduzidas em despedida. No ano de 2012, após passar por um acirrado processo seletivo na UEG para a primeira turma de Mestrado em Educação, Linguagem e Tecnologias, uma pessoa muito querida aceitou pesquisar nas fronteiras proibidas comigo, era o professor Dr. Ary. Aprendi tanto com ele nas trocas acadêmicas. O seu apoio e a maneira que me construía identitariamente, dava-me a certeza que poderia seguir adiante. Concluí o curso com muito êxito no ano de 2014, precisamente no dia 07 de março e sempre, em todos os momentos, a mão amiga do meu querido Rogerio amparava as minhas dúvidas e inseguranças em relação a tantas coisas da existência. Com ele percebi também o que é generosidade. Como a sua história de vida é parecida com a minha. Percebo que precisamos recusar muito o que somos para chegarmos onde estamos. Entendi que crescer é uma força imperiosa que às vezes dói, dói porque muitas pessoas podem também nos machucar, perseguir porque não acolhemos o dado como natural nas nossas relações; questionamos tudo, queremos aprender. Poucos compreendem sem o julgamento o que é não aceitar o que temos para buscar o que queremos. Tive apoio de muitas pessoas que materializo aqui a gratidão neste breve relato, alguns de minha família, poucos amigos e o meu querido tio Virgílio. Sendo assim, para encerrar, quero comunicar muito feliz, que após concluir o meu mestrado, pude ser aprovado em primeiro 6º lugar em mais um concurso público, desta vez para docente de ensino superior na UEG e hoje, dia 25 de novembro de 2014, sou presentado em lugar após três fases concorridíssimas, para o curso de DOUTORADO em Linguística na Universidade Federal de Goiás!!!!! Tenho muita gratidão e alegria a quem me estendeu a mão amiga neste caminho cheio de pedras. Digo ainda que quantas tiverem, as retirarei todas, mesmo que as minhas mãos precisem sangrar. Helen, amiga querida, obrigado por tudo, você é um dos presentes que a UEG me deu no curso!!!!