terça-feira, 27 de outubro de 2015

A vida

A vida está permeada de caminhos tortuosos nos quais somos impelidos ao desenvolvimento. Avançar significa transpor uma força gravitacional. Uma semente, por exemplo, quando emerge das profundezas da terra, já lutou muito com a gravidade. Essa luta interna também faz parte de nós, pois assim como o broto que vence essa energia, almejamos a existência e o reconhecimento. Reivindicar o direito de existir pressupõe paciência, resignação sob aquilo que somos, isto é, ninguém detém dos mesmos atributos para caminhar na senda da jornada evolutiva, pois cada um é único e possui as experiências que o constitui. Crescer e evoluir são imperiosos para quem está com os pés sob o orbe terrestre, mas só é possível quando tornamo-nos receptivos aos sinais que nos chegam por meio de diferentes lugares. Muitas pessoas são sinais da vida para nós, são adubos que fortalecem as raízes que se formam para sustentar e nutrir a nossa alma, porém, carecemos de sensibilidade para acessá-las, para depois da confiança, interpretá-las. Cada um traz subjetividades complexas produzidas por diferentes fatores, que somente com o passar do tempo, com a atenção aflorada, confiança e tranquilidade, são permitidas as leituras além-corpos. Ler com o olhar atento é ir a mais, é transpor as linhas que podem se materializar no óbvio. Por isso, evoluir não significa ausência de dores no caminho, ao contrário, não se aprende a andar sem antes engatinhar e cair, e isso, são processos doloridos porque saem da zona do conforto natural a que se está acostumado. Engatinhamos ainda em muitas coisas, nos sentimentos com os outros, com nós mesmos e na brutal competição social que se instaura na atualidade, torna-se mais comum a banalização do que é ou algum dia foi humano; isso faz a alma sentir dor, porque não fomos criados para espezinhar o outro, mas, para ajudá-lo a tornar melhor a existência. Nascer não se é possível sem antes chorar, mesmo quando somos arrancados da proteção uterina por meio de uma intervenção humana, sentimos a dor da alma por entrar num mundo conflituoso; dor e lágrimas são irmãs gêmeas na maioria das vezes em nossas elucubrações e fazem parte da existência. As lágrimas metaforizam o curso de um rio que segue o percurso, vai livre aonde quer e isso não se pode controlar. Esses mecanismos de uma maneira simbólica podem representar a limpeza daquilo que incomoda, infecta, prure e torna impoluta a alma. É necessário entender que não dispomos de poder sobre a vida e as pessoas para dizer o que pode ou não ser feito. Podemos em muitas fases de nossas existências sermos o timoneiro que guia a nau, mas isso só poderá ser possível se habilitarmo-nos a pilotar a nossa jornada, receptivo ao aprendizado constante, sem imposições que ferem ao semelhante. Desta forma, o entendimento e o reconhecimento das nossas fragilidades potencializam-nos de certa maneira, porque além de demonstrarem sinais de humildade, efetiva aquilo a que somos ou nos propomos a ser: sementes (talvez) humanas, prontas para crescer e encantar o mundo.  Bom dia! (texto de Clodoaldo Fernandes)

domingo, 25 de outubro de 2015

E a vida passa e o Tempo...

Há tanta coisa para se pensar sobre a vida que passa. Diferentes olhares marcam a passagem da vida. Esta vai se diluindo nas relações e memórias, encharcadas pelas alegrias, tristezas e as não-alegrias-tristezas. Com o passar da vida percebemos que há coisas mais importantes, mas que na maioria das vezes não as buscamos. Estamos marcados pelos paradoxos e dicotomias, pelos entraves que interrompem, adiam as múltiplas afetividades da vida...Mas também pelas fendas, fissuras que sinalizam as oportunidades de tornar-se menos objetivado, coisificado, líquido. Entendemos que a velhice chega, e com ela, na maioria das vezes, as limitações. Contudo, o ser humano menos velho, possui delimitações que o estaciona: o egoísmo é uma delas, o excesso de vaidade, idem. Esta mesma marca do amadurecimento da vida traz uma espécie de poder sobre o não- velho: o caminho percorrido com êxito (ou não), a busca da contemplação e reflexão (ou não), simplicidade (menos frivolidade) e o aproveitamento dos valores que enobrecem a alma e qualificam melhor as relações humanas ( ou não) . Com o passar do Tempo, há também a possibilidade de visualizarmos o que (não) valeu a pena; as pérolas que abrilhantaram a nossa vida pode ser também algo positivo e os espinhos que nos feriram também. Por falar em Tempo, lembrei-me que ele tem me feito rasgos na carne desde outrora. Quando criança, as marcas eram cicatrizes de catapora, o primeiro sinal de marca corporal. Graças a varicela hoje sou inquieto, foram os pruridos que constituíram-me e causaram-me os vestígios que hoje trago. Na atualidade sou incomodado pelas coceiras, confesso. Tenho muitas alergias. Ao deparar-me com a hipocrisia, por exemplo, pruro-me a ponto de sangrar. A superficialidade do nosso tempo também faz o meu corpo avermelhar-se, porém não tomo anti-histamínico porque gosto da altercação entre o meu "eu" e o mundo causador da patologia. Essas limitações só são possíveis porque somos humanos...E a vida passa... E passa (m) a vida... as pessoas, as alegrias, as dores-alergias, as derrotas, as conquistas. Tudo é efêmero na senda da vida... E a vida passa...Desde quando o humano teima adentrar as portas do espaço terreno para lutar contra o Tempo, si mesmo e o outro...A vida passa, o Tempo passa. Bom dia!
                                                                by Clodoaldo Fernandes