Fobias institucionalizadas: os estrangeiros
das sexualidades “anormais”...
Hoje, dezessete de maio de 2013, não
gostaria de escrever sobre algo que me angustia e enoja: a homofobia. Tomo aqui
nessa reflexão a homofobia como uma manifestação arbitrária e violenta que perpassa
a noção de “fobia” dos postulados freudianos. Compreendo essa manifestação como
uma prática perversa que subalterniza o ‘outro’ como inferior e destitui de
direitos e deveres esse ‘outro’ no país/mundo/lugar que vive. Na medida em que
as sexualidades tornam-se evidências, ainda que seja de maneira equivocada nos diferentes
veículos midiáticos, a brutal violência materializa como um exterminador da sua
insatisfação com as diversidades. Como uma atitude higienista, exterminar e
limpar são palavras de ordem em uma sociedade centrada pelo machismo, sexismo,
homofobia, patriarcalismo e consumismo. Pensar nessa homofobia parece limitado porque
se esquece das diferentes formas de afetividade que movimentam a sexualidade humana.
Nesse sentido, institucionaliza uma prática social como única variante, e deixa
de mencionar outras manifestações de violência em relação àquele (a) não
detentor da heterossexualidade obrigatória ou da “sexualidade monstruosa” numa concepção
foucaultiana. Assim, temos as lésbicas (lesbofobia), as travestis, transexuais
e transgêner@s (transfobia). Esquece-se, por exemplo, que vivemos tempos das ‘fobias
institucionalizadas’, em que um coletivo acha natural inferiorizar o ‘estrangeiro’
da sexualidade normativo-obrigatória. Ou seja, torna-se cotidiano em diferentes
espaços excluir o que caminha em direção às fronteiras, em direção contrária à
norma ou ao esquadro. A escola, como uma instituição favorece essa ‘institucionalização
das fobias’, na medida em que negligencia espaços democráticos de discussão sobre
a sexualidade e a construção dos gêneros, do ponto de vista social/histórico/cultural
e não biológico. A igreja, outra instituição secular, aplaude uma barbárie (de
forma implícita) quando sataniza as sexualidades, demonizando e impedindo o
acesso aos seus espaços ‘sacrossantos’ colocando o ‘outro como sodomita que
carece de inquisição para expulsar o demônio da sexualidade. A família, outra
instituição de poder, favorece em inúmeras possibilidades a exclusão dos seus
filhos e/ou parentes, quando @s apaga, ou violentam através dos ditos e/ou silêncios
que permeiam a relação cotidiana familiar. Quando controla e molda um futuro
que na maioria das vezes, os pais destinaram aos seus. A mídia, tomada aqui
como uma instituição que controla, governa, fabrica identidades e posicionamentos
aceitos socialmente, favorece a ‘fobia’ quando constrói sujeitos caricatos, destituídos
de inteligência, e/ou subalternos em relação ao “normal” (instituído e aceito
como modelo socialmente). Quando fabrica sujeitos elitizados entendidos somente
como potenciais consumidores, violentam outros que não são modelos. Institui que
existem aqueles que não são/serão potenciais consumidores gays e que por isso ficam
também à margem. O erro, já se constrói ideais de sujeitos somente para o
mercado, que vivem na angústia de ter para ser aceito socialmente. Então, o que
se verifica são práticas perversas de ‘fobias’ que se constroem e que são naturalizados
na sociedade. Concordo que a homofobia mata muitos diariamente. No entanto, concilio
que muitos dentro das suas comunidades também matam e silenciam outros diariamente.
Por que faço tais afirmativas? Porque percebo que há também uma
homonormatização que teima em essencializar os jeitos de ser lésbicas, gays,
travestis, transexuais e trasngêner@s. Dessa maneira, quem for contra essa corrente
essencializante, será excluído. Outra forma de violência, matar o outro
socialmente porque não é uma lésbica-essência, um gay-essência, uma
travesti/transexual/ transgênero – essência. O que quero nessa rasa reflexão é
pensar em um dia que não mais acusaremos o outro pela sua condição sexual.
Anseio que os outros nas Universidades não necessitam viver na clandestinidade
com medo de serem rechaçados. Quero acreditar que um dia as pessoas não sintam
a necessidade de categorizar o outro em ‘homem’ e ‘mulher’, ou no jeito de ‘ser
homem’ e de ‘ser mulher’ como algo fixo, estável e coerente. Mas, que sejam
vistos como pessoas, não sendo somente o amigo gay engraçado, o professor gay,
a vendedora lésbica, a cabeleireira travesti ou os “anormais” que carecem de ‘correção’
e por isso, enquadramento social. Assim, espero que um dia, a sexualidade do
outro não seja motivo para materializar o ódio sobre aquilo que não compreendo
em mim. Dificilmente, uma sexualidade tranquila terá ódio ou aversão em relação
à sexualidade do outro. Portanto, compreender as sexualidades e os diferentes
matizes que envolvem essas preciosidades é (re)conhecer as complexas teias discursivas que se imbricam
na existência humana. Como bem afirma o grande Foucault, “eu me recuso a aceitar
que alguém possa ser identificado com e através de sua sexualidade”. Eu sou
contra a subalternização do outro em qualquer relação, e você? Assume uma
postura mascarada do politicamente correto ou se esforça em compreender o
porquê da não aceitação e/ou do reconhecimento da diferença do outro?