sábado, 29 de março de 2014

AS PALAVRAS E A DRAMÁTICA


As palavras são minhas contraditórias maneiras de existir no mundo.
Há momentos que posicionam-me, outros, deslocam-me.
Os rabiscos da minha existência são delineados pela experiência que tive com várias narrativas. Estas (auto)constituem verbos-ações na existência linguística .
Quando era criança fui analfabeto, comecei a ler os ‘livros-mundo’ aos treze anos.
O número do aziago perseguia-me a partir daí.
Lembro-me que ao primeiro olhar sobre as letras, estas repugnaram-me.
Penso que é porque sou avesso à gramática-dramática.
A fobia das letras fez-me regurgitar os vômitos lexicais.
A dramática encalça como um demônio súcubo da noite, voraz e impiedoso.
A gramática drena a minha sentimentalidade com as palavras e transforma-me em vivo-morto.

sexta-feira, 28 de março de 2014

LINHAS EFÊMERAS


Sou muitas páginas em branco.
Com margens e linhas tortas.
Não existo. Almejo amar.
Não sou. Quero protagonizar.
Não tenho. Sonho sorrir.
Não habito. Aspiro ‘afetuar’.
Não transito. Almejo demarcar.
Não engendro. Pretendo nascer.
Mataram-me antes disso.
Existir. Ser. Ter. Habitar. Transitar. Engendrar.
Verbos-estados-ações.
Anseio escrever a minha história.
Roubaram-me os rabiscos, as linhas e os parágrafos.
Não existo.
Linhas efêmeras.

ALMA CARCOMIDA

Minh’alma é triste.
Sou o passado que violentamente atormenta.
Sou a história esquecida e cunhada no ser.
Sou o verme e a carne carcomida pela sensata podridão.
Não respiro.
Aspiro ao que não presta e torna-se fétido.
Todo o resto que sobra, devoro.
Toda o excesso rumino e regurgito.
Sou o presente existencial.
Depois de corroído pelo tempo, sou o esqueleto.
A carne está devorada.
A alma está dilacerada.
O nada sobrou.
O futuro não há.
A carne poderá vir a ser.
A alma virá a existir.
Minh’alma é triste porque há felicidade exacerbada no mundo.
A tristeza que possuo nada mais que uma vontade de existir.
A alegria contamina o meu ser como uma doença letal.
Possuo o antiviral da felicidade gratuita.

quarta-feira, 26 de março de 2014



SOU O CORPO?!

Sou o corpo. Corpo projeto. Corpo objeto. Corpo-consumo. Sou o Corpo. Corpo-vitrine. Corpo-espetáculo. Corpo-midiático. Sou o Corpo. Corpo controlado. Corpo disciplinado. Corpo docilizado. Sou o Corpo. Corpo-esquálido. Corpo-obeso. Corpo-magro. Sou o Corpo. Corpo-aceito. Corpo-negado. Corpo-normatizado. Sou o Corpo. Corpo-discursos. Corpo-palavras. Corpo-dizeres. Sou o corpo. Corpo-solidão. Corpo-multidão. Corpo-flâneur. Sou o Corpo. Corpo-mecânico. Corpo-automatizado. Corpo-conectado. Sou o Corpo. Corpo-social. Corpo-histórico.Corpo-espaço. Sou o Corpo. Corpo-transgredido. Corpo-fabricado. Corpo-Transformado. Sou o Corpo. Corpo-racional. Corpo-emocional. Corpo-espiritual. Sou o Corpo. Corpo-lugar. Corpo-país. Corpo-cidade. Sou o Corpo. Corpo-criança. Corpo-adulto. Corpo-velho. Sou o Corpo. Corpo-homem. Corpo-mulher. Corpo-homens-mulheres. Sou o Corpo. Corpo-vida. Corpo-morte. Corpo-vida-morte. Sou o Corpo. Corpo-negro. Corpo-branco. Corpo-multicolores. Sou o Corpo. Corpo-identidades. Corpo-contraditório. Corpo-adverso. Sou o Corpo. Corpo-tesão. Corpo-êxtase. Corpo-assexuado. Sou os Corpos. Corpos-imbricados. Corpos-entrecruzados. Corpos-interseccionados.

terça-feira, 25 de março de 2014


PALAVRAS
O que são as palavras? Pergunto. Não sei. Só apreendo que são vômitos que libertam, isso se forem tidas como algo que causa mal-estar guardá-las. Retê-las é uma forma de tornar-se cheio, indigesto. Essas palavras são também fantasmas que nos assolam a alma para nos atormentar, incitar a escrever. Dizem elas-não o deixaremos em paz consigo mesmo e com o mundo. As palavras me provocam, fazem de mim um constante observador, sensor, radar,receptor de nuances diversas. Não sei escrever, confesso, mas uso as palavras, como forma de puni-las por gritar dentro de mim o que não quero reclamar no exterior. Jogo com as palavras como um ato de reivindicar a minha existência. Se estas atormentam-me e não são fiéis, porque não estão comigo o tempo todo, pago com a mesma moeda, deixo-as livres para buscar outro corpo, outra alma.

domingo, 23 de março de 2014


PALAVRAS, INTERSTÍCIOS E MEMÓRIAS
Era o ano de 2012, uma manhã de quarta-feira, ao deparar-me com um rapaz, percebi que este tinha algo de diferente. Já havia visto muitos rapazes, não como este.  Chamou-me a atenção em como o seu olhar denotava um misto de timidez e voracidade pungente. Avidez em aprender, conhecer, sentir, viver, fazer-se reconhecido. Queria entender tudo aquilo que começava a perturbar os meus surrealismos noturnos, no entanto, era muito cedo para  buscar novos questionamentos. Os dias foram se passando e pude enxergar que em cada gesto desse lindo rapaz, imperava a sutileza. Ser sutil era algo próprio dele. O seu sorriso era sutil. O seu olhar era sutil. O seu caminhar era sutil. A sua voz era docemente sutil. Estava encantado pela sua sutileza e beleza. Os seus traços eram inebriantes. Quando chegava à minha casa, as palavras se digladiavam em minha mente, em uma busca incessante para nomear tudo aquilo que cruzara a minha existência, queria entender o que sentia e negava. Os meses foram passando e, com eles, a sensação calmante de que existiam em algum lugar, seres capazes de refrigerar com a sua presença, a nossa alma... Janeiro, mês que simbolizava o começo, marcava a estação do verão, como uma contagem do tempo, simbolizava o crescimento. Era tempo de aquecer novamente a alma e esse olhar tímido, tinha o poder de acender o meu ser. Confesso, havia trocas entre as minhas palavras, gestos e ações inconscientes para chamar a atenção do jovem rapaz. Havia um muro invisível imposto pelas normas, que, definitivamente sentia dificuldade em romper. Existia ainda uma hierarquia que me agonizava, porque não queria que houvesse. Almejava ser visto de maneira equânime, sem a dúvida de ser temido pelo que representava o meu papel social... Chegara o tempo do outono, tempo este que simbolizava a liberação daquilo que não foi bom em minha vida. As arestas caiam como as folhas em libertação. As dores da alma faziam-se sentir que algo precisava ser refletido: Não queria amar novamente, não tinha coragem. E, mais uma vez, o sorriso mais lindo que vira até hoje, fortalecia-me, pois sem saber, o olhar doce e o sorriso angelical daquele menino, dizia em nuances invisíveis, sobre a força imperiosa do individuo humano ser feliz e crescer com as dores. Assim, esses desenhos gráficos aqui intencionam registrar no tempo e no espaço o que sinto pela vida e por poucas pessoas ESPECIAIS. Diante dessas linhas autoconfessionais, não deixarei de marcar o quanto o olhar desse jovem rapaz emana introspecção. Não por acaso, alguém mencionou que “os olhos são as janelas da alma”. Realmente, pude dissecar durante aquele ano, o quanto os olhos daquele garoto são introspectivos, reflexivos, fortes, com movimentos inteligentes e argutos, de uma cor hipnotizante. Aspirava que, com a argúcia castanha, pudessem me enxergar, não fora possível... Era algum tempo, entre o inverno, minh’alma teimava em hibernar, diminuir o seu ritmo, tornar-se ociosa. Seria impossível naquele momento, porque o cotidiano ao lado do jovem, não fazia o ritmo corporal diminuir, ao contrário, o sangue pulsava, o coração acelerava . Pensava... Pensava... Pensava. Era uma frenética tentativa para entender tudo aquilo que acontecia em meu ser. Sentia falta da sua presença quando chovia, logo, entristecia. O meu espírito de forma natural, protegia-se sobre a influência da estação. Como em uma noite gélida, sentia esvair a esperança de que algo acontecesse... Acordei, era a chegada da primavera, tudo se renovava em mim, a esperança, as flores que me habitavam e que, em algum momento murcharam, davam o sinal de que o frio passara. Estávamos entre o mês de setembro, coincidentemente o período do nosso nascimento, divergindo apenas o signo: Eu, analítico, virginiano, ele, equilibrado, libriano. Olhares, gestos, inteligência, introspecção, timidez, sorrisos, tudo isso estava deixando-me inseguro, pois o meu ser sentia que o fim do ano se aproximava. O que faria? Como viver ali naquele recinto sem o mesmo olhar que, mesmo sem saber da minha intenção, cuidava, acalentava e fazia-me sentir importante, especial. Era assim que sentia e tudo isso estava ruindo com a chegada do final de ano, tempo em que as pessoas fazem resoluções para serem felizes, prósperas e amadas. A insegurança que experimentara naquele tempo, vencera o lugar pertencente da esperança... Não sei se durmo ou se estou em vigília, há quanto tempo? Tempos atuais, reencontro as palavras silenciadas em meu ser. Desta vez, as minhas companhias foram cruéis, porque me traíram nessas linhas. Não consegui guardar algo que prometera em ocasiões de outrora não revelar. O que são os gestos corporais?  Ondas que se movimentam para nos circunscrever no espaço e no lugar do qual fazemos parte. Os seus movimentos corporais dão-me a sensação de pertencimento de mundo. A sua mão fina e longilínea, é a mão que afaga a minh’alma, quanto se materializa em palavras de carinho. O que são os olhares? Trocas eletromagnéticas, nuances vitrais que energizam e recompõem, fortalecendo-nos para prosseguir a existência. O seu doce olhar, mesmo que rápido, corporificado nas fotos ou em breves trocas presenciais, cuida e faz sentir-me importante, especial, aliás, especial é uma palavra que gosto muito quando ele diz que se sente quando o elogio. O que são memórias? Recursos indeléveis que permite-nos materializar o que é bom, ruim, o que nos fez bem ou não. O rapaz de pele alva é algo que a minha memória reporta como uma das figuras mais doce, sutil, que entrecruzara o meu caminho... Nesta revelação, questiono o que são as palavras?  Monstros famélicos que provoca-nos a expressar o que sentimos, mesmo quando não queremos; somos incitados a estabelecer conexões com o mundo pelas palavras. São algumas formas de marcar a nossa existência afetiva e intelectual. Confesso: ao dormir na noite passada, ouvia vozes corporificadas nas palavras que gritavam em mim – Tenha coragem para verbalizar o que sente, nós te ajudaremos. Palavras, amigas/inimigas ou consciência/inconsciência? Assim, para delinear nessas linhas algo que viesse de encontro ao que sinto desde há tempos , jovem rapaz, e que, por vários motivos, quis adormecer, pedi às minhas amigas palavras, metamorfoseadas em notas musicais, que me encorajassem enquanto recordava-me dos sorrisos afetuosos ao longo do ano de 2012. As traidoras ajudaram-me, e trouxeram até mim, para lembrar de você, Damien Rice – “Delicate”, Daughter – “Youth”, Lana Del Rey – “Ride”, Regina Spektor - "Fidelity", Nina Simone, Etta James. Como te disse, jovem homem, em um dado momento, não sou dado muito bem com as palavras, mas prefiro trazer essa confissão, como a “Metade” de mim que grita:  "Que a força do medo que tenho. Não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo em que acredito. Não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito. A outra metade é silêncio... Que as palavras que falo. Não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor. Apenas respeitadas como a única coisa. Que resta a um homem inundado de sentimentos, pois metade de mim é o que ouço. A outra metade é o que calo...Que a minha loucura seja perdoada, pois metade de mim é amor... E a outra metade também"...  
                                                             


                         

sábado, 22 de março de 2014



EXISTÊNCIA HUMANA



Não podemos passar pela existência humana sem que ao menos as pessoas em nossa volta não se sintam melhores e mais felizes. Para mim, concebo  a vida como um mecanismo em que só  há sentido, quando vem carregada de trocas, saberes, diálogos e intersecções, mesmo que, alguns destes ,nos provocam e desapontam. São as provocações que desestabilizam as nossas zonas de conforto e são as altercações que nos faz recusar o que somos para se pensar diferente do que se é. Neste sentido, não podemos aceitar passar pelo cotidiano da vida sem tesão pela vida. Não é meritoso viver rodeado em meio a palavras que não nos permitem o silêncio de nossas descobertas. As pessoas que degluto e as palavras que rumino, são as fontes inesgotáveis daquilo que habito.Sinto fome e  sede de pessoas  porque quero aprender, e as minhas necessidades são vorazes, já que sou humano.  Em minhas vozes ressoam vários dizeres, múltiplas cores,variados tons. Isso é viver!!! 

segunda-feira, 17 de março de 2014

“Príncipe ou Cinderela”?: fabricando identidades “(a)normais” no sujeito homoerótico


Resumo
A partir da obra de Azevedo e Dieguez (2010), este trabalho tem como objetivo problematizar os modelos de comportamento em relação à sexualidade que são impostos nas práticas sociais e que predominantemente estigmatizam as práticas homoeróticas. Essa problematização é feita com base em algumas reflexões propostas pelos rastros de estudiosos como Foucault (2001, 2010), Moita Lopes (2003, 2006, 2008) e Hall (2011, 2012) em diálogo com a Análise do Discurso Crítica. O estudo revela que os discursos que se entrecruzaram nas análises confirmam uma legitimação essencialista do que é ser gay na sociedade, que legitima uma essência sexual na contemporaneidade.
A HORA DA CIDADE E A EXPERIÊNCIA URBANA: UMA LEITURA DE A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR


Resumo

Este tem como objetivo discutir o modo como a cidade do Rio de Janeiro é tematizada em A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, bem como analisar as relações conflituosas entre a protagonista Macabéa e o contexto urbano à sua volta. Transitamos por alguns comentadores que tematizam a cidade, a sociedade e a literatura, a saber: Calvino (1991), Gomes (1994) Rolnik (1994), dentre outros que problematizam a temática em questão. As discussões revelam que a literatura é um importante meio de representação da sociedade, já que permite o registro da realidade de um momento histórico que pode antecipar tendências e mudanças. No que tange ao processo de modernização e urbanização das cidades, a literatura constrói e posiciona diferentes sujeitos na sociedade. Disponível em

Práticas educativas sobre diversidade sexual no ambiente

educacional: possível ou ainda uma utopia?


Resumo
O presente artigo, a partir de estudos de Louro (2004, 2007, 2010), Michel Foucault (2001a, 2001b), Moita Lopes (2006, 2008), dentre outros, propõe analisar, na materialidade linguístico-discursiva de alguns recortes advindos de três artigos sobre a diversidade sexual no contexto escolar, os efeitos de sentido que perpassam os seus principais pontos em comum e a recorrência de vozes que entrecruzam as práticas discursivas nesses trabalhos. Este estudo, de caráter qualitativo, de base indutiva e interpretativa, revela a necessidade de se empreenderem reflexões acerca da sexualidade no espaço escolar, a partir de práticas educativas sobre a diversidade sexual.
SEXUALIDADES EM TRÂNSITO: JUVENTUDES “DESVIANTES” NA ESCOLA


Resumo
O presente trabalho tem como objetivo problematizar as maneiras (im)postas em que são colocados os alunos e alunas em contexto escolar para viverem uma sexualidade (hetero)normativa . Propõe pensar as sexualidades de certo ponto de vista discursivo tendo como compreensão que os discursos constroem o que podemos ser e o que seremos nos espaços escolares. As discussões são traçadas tendo como algumas indagações, no que se refere ao jovem e ao contexto escolar, a saber: Que modelos discursivos as instituições escolares propagam em relação à diversidade sexual? Em que medida a sociedade, ao não reconhecer a diversidade sexual, nega espaços democráticos de inserção e debates acerca das identidades não hegemônicas na escola? As discussões revelam a necessidade de promover espaços democráticos de inserção da diversidade sexual na escola, para que não haja um silêncio naturalizado e excludente, que pode negar direitos básicos arrolados nos documentos oficiais da educação básica.
SEXUALIDADE(S) EM TRÂNSITO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA POSSÍVEL REFLEXÃO NO CURRÍCULO



RESUMO
O presente artigo tem como principal finalidade investigar nas literaturas recentes os estudos realizados que abordam sobre as práticas educativas acerca da diversidade sexual e a formação de professores (a). O pressuposto teórico do trabalho é pautado pelos estudos de Foucault (2001), Moita Lopes (2004, 2006, 2008); Louro (2004, 2007, 2010); Borrillo (2009), entre outros que problematizam questões de sexualidade e educação. A geração dos dados sobreveio de pesquisas bibliográficas em que se investigou o debate acerca da sexualidade e educação no currículo e a formação do professor(a). Trata-se de uma abordagem de pesquisa de caráter indutivo de cunho interpretativo. O estudo revela que a temática da diversidade sexual no contexto acadêmico não é muito discutida. Percebese que existem práticas simbólicas de invisibilidade e silenciamento por parte da Academia, na medida em que não se problematiza as sexualidades de forma democrática em seus espaços institucionais. A discussão mostra que é urgente que os currículos promovam nos cursos de graduação e pós-graduação, uma formação inicial e continuada ancorada por pressupostos teóricos que versam sobre o debate acerca da diversidade sexual, currículo e das identidades culturais.

sábado, 15 de março de 2014




Começou o dia da Mulher (08/03). Algumas mensagens irritantes e hipócritas. Escrevamos algo mais autoral para refletirmos sobre a condição subalterna e invisível que se constrói essa mulher na sociedade. Pensemos sobre a mulher-objeto fabricada nos anúncios televisivos de cerveja e/ou nos programas de auditórios. Questionemos os discursos que reverberam o machismo falocêntrico e sexista que às vezes aprovam o estupro simbólico além do físico. A mulher deve ter o direito sobre a sua vulva, sobre o seu corpo. Aliás, as suas escolhas devem ser pautadas pelo seu direito ao prazer, ao gozo, muitas nem sabem o que é isso. Que a mulher possa decidir ser o quiser sem a imposição social da procriação. A mulher deve ter nome e sair do privado a que foi imposta desde há séculos. O homem tem o direito ao público, ao pênis eretus em sua forma mais sexualizada. A mulher? Não. Foi construída como um ser castrado que falta algo que a complete. Não, definitivamente ,não.Não creio nesse dia da mulher em que algumas mulheres discriminam aquelas que gozam, sentem prazer e querem o direito sobre os seus corpos. Dia da mulher? Quem sabe no futuro próximo em que não se faça necessário um 'testículo-protesto' como esse. Almejo que esta mulher seja liberta das amarras que se localizam no tempo e na história para que se sinta emancipada e transforme o mundo social.

Entre Corpos e Corporalidades






O que é o corpo? Algo de partida social em que se impõe regras e disciplinas. O corpo como atributo de controle é marcado por diferentes atravessamentos que o circunscreve em ritos e ditos aceitos ou negados pela sociedade. Em séculos anteriores, o corpo não era lembrado e referenciado como na atualidade, pois acreditava-se que, ao lavá-lo, tornava-se impuro,assim, ao deixar sujo, deixava-o 'puro', para que conservasse a vida. Em tempos seguintes, o corpo é algo policiado, marcado pelo olhar do pecado, da desonestidade. O masturbador sabe muito bem disso, já que a sua prática prazerosa, a masturbação, será vigiada pelo olhar panoptiano, daquele que tudo vê. A família, como forma de cercear o prazer, será a instituição que vigia os lençóis e os quartos noturnos, para saber até onde esses corpos estão eretos e gozando o semêm da procriação. O monstro humano, figura foucaultiana, é também um corpo biológico-jurídico transgressor, porque subverte os discursos legais do que é biologia,anormalidade e legalidade. Já nessa contemporaneidade, os discursos constroem corpos e lugares para que ambos sejam ocupados. Têm-se os corpos-objetos, corpos-desejos, corpos-negados, corpos-coisificados, corpos-docilizados (escola, prisão, igreja), corpos-transgressivos, corpos-discursivos. Nesse sentido, hoje, policiamos os corpos em diversos saberes aceitáveis ou não em diferentes discursos.Quando dizemos, por exemplo, sobre o corpo-magro, o corpo-gordo, o corpo-másculo, controlamos as pessoas que habitam esses corpos. Aliás, escravizamo-nas para que estejam nos moldes discursivos de quem possui o poder para dizer o que é ou não aceito na sociedade. Dessa maneira, temos a deusa ciência (nutrição, Educação Física, Medicina), a mídia (corpos-objetos hiperssexualizados) etc, para fabricar verdades que nos aprisionam corpos. Assim, incito a provocação sobre os corpos, para pensarmos sobre os nossos corpos como atributos discursivos, que se digladiam entre o que é legitimado e o que é endossado pelo sujeito (nós também). O corpo ideal é algo passageiro, assim como o foi na Grécia antiga o corpo-adônis. Portanto, para mim, o corpo, além de estar localizado em uma agenda histórica e espacial, é algo que se desloca de acordo com a sociedade e o tempo em que se vive. Deste modo, provoco a todos e todas possuidores de corpos subjugados e escravizados, para pensarem que corpos querem possuir? O vigiado ou o emancipado? Este último, sabe quando e como sentir prazer, sabe como e quando ser o que quiser ser, sabe quando e como dar prazer, a vida, ao outro, a si mesmo...#Corposentrecorpos