segunda-feira, 22 de abril de 2013



Estou de luto: A educação faleceu e deixa órfãos à deriva.

Sei que posso ser mal interpretado por aqui pelo o meu posicionamento, no entanto, tenho o direito de expressão. Estou de luto, morreram em mim as possibilidades de uma educação de qualidade. Espero que ela renasça em outros momentos, em outras vidas... Vejo professores morrendo socialmente no cotidiano, vejo alunos e alunas mortos e mudos sociais. É tempo de reflexão sobre esse processo complexo. O momento que o professor foi reconhecido pela sua prática docente foi aproximadamente na década de 50, quando o seu salário era comparado ao de um juiz. Exigia-se desse profissional uma cultura ampla, pois, era ensinada na escola elitista arte, literatura, latim, francês, inglês, etc. Portanto, era uma escola que se fazia admissão para poucos terem acesso e serem líderes na sociedade. Com o advento da industrialização no Brasil, foi necessária a criação de uma escola de massas, pública que colocassem ‘operários’ mais letrados para uso das máquinas. As fábricas nesse sentido foram o modelo de escola que temos hoje, disciplinadora, reguladora, em forma de grade o currículo e disciplinas com uma sirene igual às fábricas. O processo de formação de professores também obedeceu às políticas de massas, criaram-se em diferentes polos e universidades os cursos de licenciaturas para que os professores já atuantes pudessem ter curso superior uma vez que muitos ainda possuíam ensino magistério ou até fundamental (basta ver o Norte e o Nordeste, por exemplo). Infelizmente, na medida em que foram criando mecanismos para que outros formassem professores, o nível da oferta e procura cresceu rapidamente sem se preocupar com a qualidade dessa formação, resultado: baixíssimo nível cultural formal da maioria dos professores. Então, foram construídos nessas políticas públicas como meros reprodutores e repetidores, que não leem um artigo científico por ano, porque trabalham demais, ganham pouco; trabalha-se em três turnos, não compram um livro científico da suas práticas docentes e sem o livro didático não conseguem dar aulas (outra forma ideológica que veicula o poder da elite). Os alunos e alunas sem a motivação para ascender socialmente não vê nesse profissional sinônimo de poder e reconhecimento, desejando outras profissões (que infelizmente, não conseguem cursar por causa da concorrência dos vestibulares). Portanto, creio assim como Nietzsche, que é do caos que nasce as estrelas. Isto é, torna-se necessário o caos para que um dia (pelo menos daqui um século talvez) haja respeito por esse profissional, sobretudo das escolas públicas. Acredito que, por mais que alguns formem professores, poucos querem que os seus filhos sejam também professores; é uma profissão que os governantes sabem que é trampolim de outras profissões. Veja a quantidade de contratos no Brasil afora, professores de diferentes áreas lecionando artes, filosofia, línguas estrangerias e materna etc. Sem possuírem licenciatura naquela área de atuação, tornam-se reféns do sistema alguns professores. É uma pena esta afirmativa: brevemente sairei da educação básica. Retirarei porque no nível que almejo o Estado não me reconhece; a sociedade, idem. Nem os meus alunos e alunas sugam o que tenho a oferecer pelos caminhos que percorri e ainda percorro na vida acadêmica. Talvez porque não foi ensinado a pensar e sim apenas repetir e copiar. Parece que o círculo vicioso continua, basta observar que a escola que temos configura numa escola dos operários de fábricas que saibam lidar cada vez mais com aparatos tecnológicos nas indústrias, e pensam cada vez menos sobre os processos que permeiam a sociedade. Repetem, memorizam, copiam, esquecem, exceto aprendem, apropriam, transformam, questionam. Como robôs, não sabem nada além do programado. Assim, de tempos em tempos, temos aqueles e aquelas que não conseguiram passar em vestibulares de alta concorrência porque não estudaram e não foram assegurados pelo direito à educação de qualidade como assevera os documentos oficiais, que, não restando mais a fazer, cursa uma licenciatura para ter um emprego estável. A maioria desses alunos são os primeiros da família a possuírem curso superior, então, acham alguns, já é uma vitória (?) ter um curso superior. Sigo e parabenizo aos meus colegas de profissão que cada dia tentam transformar a vida, mesmo sabendo que a força da coerção torna-se imperiosa e fatal sem muita chance de transformação. Quero escolher e abrir as portas para o mundo que escolhi viver!!!

domingo, 21 de abril de 2013




" Vejo pessoas ou figuras fragmentadas?"-Zaratustra 


Acordei e vi um mundo diferente. Não divisava pessoas, via fragmentos assim como Zaratustra. Era um mundo de coisas e valores diluídos pela superficialidade. As pessoas que via nesse mundo estavam como as telas de Picasso, todas em recortes e simultaneidades. Os corpos estavam todos em recortes, cheios de espaços territorializados. Os sexos. Os gêneros. Os consumos. As Grifes. Os conflitos. Tudo era (de)marcado e deslocado. Era um novo mundo e cabia a eu viver nesse mundo da melhor forma possível... As dores, as tristezas, as angústias, as alegrias, as fantasias, os sonhos, os amores, os medos, as frustrações, as sensações, as inibições, as repressões solapavam-me rumo ao que eu mais negava: ser Uno. Gosto do contraditório, da dubiedade das coisas, da possibilidade de várias perguntas. Gosto da possibilidade de ser Um em Vários. Gosto das incoerências que me circundam o mundo. Gosto da instabilidade que se instaura nessa instantaneidade da Vida. Acho as respostas limitadas para o meu Ser. O meu Ser possui seres que se inter-relacionam e se negam e que nesse processo de negação vai (se) des-construindo... Prefiro o questionamento de tudo. Enquanto questiono, aprendo. Aprendo que as vidas não são fórmulas, sentenças, permanências, coerências... Aprendo que sou constituído e (des)construído na relação com o  outro. O outro me torna mais humano. Faz-me sentir menos desumano... Não tenho respostas. Tenho dúvidas. Ter respostas para tudo pressupõe erudição. Erudição, não possuo. A certeza possibilita a inércia mental porque se crê detentor do saber... Quero o que não posso. Posso naquilo que não quero. Quero e posso aquilo que quero e não quero... Quero e posso. Quero pessoas. Posso acreditar nas pessoas. Quero experienciar pessoas. Posso viver com pessoas. Posso refletir com as pessoas... Ainda que fragmentadas e diluídas, busco PESSOAS. Vejo. Ingiro. Sinto. Vivo. PESSOAS. Nessa jornada solitária que é a Vida sigo como um estrangeiro de um mundo que outrora participei e habitei. Transito pelo velho e o novo mundo como um viandante que sou e Estou... Sou e estou: amalgamado com o Tu, o Ele e o Vós.

sexta-feira, 19 de abril de 2013



A obrigação da Felicidade... 




    Diante de algumas coisas que tenho visto, percebo algo violento e perverso que tem se instalado inocentemente nas relações sociais hodiernas: A obrigação em ser feliz o tempo todo. A sociedade está impondo aos outros essa prática de forma sutil e cruel, seja nas redes sociais, com fotos 'alegres' de supostas celebridades (no mundo do espetáculo muitos sonham em ser uma), na televisão com os programas de risos gratuitos, nos 'livros da felicidade' no ranking da semana: 'As 30 maneiras de ser feliz o tempo todo', 'Como perder a tristeza em uma semana com cremes da felicidade" ou 'As pílulas do dia seguinte da tristeza’. 
    Com a "medicalização do cotidiano" ninguém mais quer digerir as coisas que não faz bem. Com essa prática perversa, buscamos entorpecer os sentidos através das 'pílulas da felicidade'. Como entender esse complexo processo, não sei. Sei que questiono os processos que se instauram de forma naturalizada. Compartilho de algumas discussões de Viviane Mosé e penso sobre a falta da digestão da dor, da solidão, da tristeza que somos fabricados. O estômago das pessoas está ferido pela gastrite consumista que nos impõe a obrigação eterna da felicidade, estando ferido o estômago, torna-se difícil o processo da digestão emocional. Nesse sentido, não digerir a tristeza como um processo de algo que não está bem em nós é algo prejudicial porque não nos coloca de frente dos problemas da vida. Somos aceitos e até valorizados para entorpecer os sentidos no que se refere a medicamentos. Não quero dizer que estes não sejam importantes, mas que vivemos uma espécie de ‘medicalização’ sobre tudo isso é fato. Crianças sendo medicadas de forma banalizada por não ser o modelo, a referência que a escola exige ou aceita nos seus espaços. (são tantos transtornos nomeados e categorizados). Se se no século XIX vivemos a psiquiatrização do sujeito desviante e louco como nos reporta Foucault em “Os Anormais”, no século XXI vivemos a medicalização do cotidiano, em que entorpecer os sentidos torna-se capital para o não sofrimento, para a não reflexão da dor.
     Precisamos mostrar às nossas crianças e aos adultos que a solidão também não é algo ruim e que ser feliz o tempo todo é impossível porque isso não é humano, é desumano e tormentoso. Enquanto isso, livros e livros de 'autoajuda' abarrotam as bibliotecas e as nossas mentes (e os bolsos dos deuses do 'show business'). É uma máquina de fazer dinheiro que enriquece poucos no mundo contemporâneo, e nessa fatia, a maior parte do pão será para os donos do capital: indústrias farmacêuticas, mídias, celebridades, e alguns juízes do saber detentores do poder de “vida e morte” numa concepção foucaultiana do termo.
   Assim, temos o tratamento da felicidade vendida em todas as camadas sociais. Temos crianças medicalizadas que se comportam como zumbis que não pensam, só comem e dormem e são autômatos. Quando penso sobre os 'deuses da felicidade' e a felicidade acessível, concluo o quanto estamos inseguros com a dor, a solidão, a reflexão e a digestão dos processos de tristeza que nos assolam o cotidiano. E nesse jogo de insegurança e capitalismo, infelizmente, na maioria das vezes os autores do 'mundo dos negócios da felicidade' não têm base teórica para empreendimentos e discussões sobre os processos da vida no que tange à dor, às angústias e medos; repetem e recortam 'dizeres de verdade' que somados, tornam-se compêndios da felicidade. É o 'pega ali e junta daqui' de fórmulas, de doutrinas e supostas teorias, que no final, dão certo e enriquecem poucos. 
     Numa sociedade que raramente se digerem as emoções e que há a promoção da 'medicalização compulsória’, ou a 'psiquiatrização das emoções', dificilmente teremos capacidade de entender os nossos processos existenciais, porque as perdas, as mortes, as vidas, os ganhos, as obrigações, os enlaces são processos da existência que não podemos entorpecer e fugir. Sendo assim, esses processos existenciais  têm as suas idas e vindas que nos constituem como seres humanos que somos. 
      Portanto, assim como a "Morte" de Saramago, no livro "As intermitências da Morte”, que num dado momento cansa de matar as pessoas e resolve descansar desse mundo, a felicidade imposta e medicalizada também poderá chegar nessa revolta existencial e não querer mais pessoas 'felizes' de forma gratuita como se tem construído. Pensemos sobre isso, pois a obrigação em ser feliz o tempo todo pode ser sofrível porque nos vicia e impõem obrigações que nunca alcançaremos sobre nós e os outros (o idealizado é ideia fabricada e normatizada pela sociedade). Nesse sentido, é necessário que retomemos as rédeas de nossas vidas para que possamos dirigi-las sem medo da solidão, da dor, da angústia, da morte. É importante que curemos o nosso estômago das gastrites para digerirmos melhor as experiências que nos batem à porta. Então, já tornando prescritivo, encerro essa reflexão antes que tenha de rir e não conseguir parar o riso porque obrigaram-me a consumir as receitas da felicidade. Vivamos a oportunidade de ser humano sem pressões dolorosas para adequar-se o tempo todo para a felicidade!

Texto publicado no jornal Diário da Manhã no dia 06/05/13  http://www.dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130507&p=21

quinta-feira, 18 de abril de 2013



Quero...Ser...ter...

Cansei de ser o "outro".Quero 'Ser Humano'.Ser "Eu" e o "Nós".Quero andar descalço.Quero tomar banho de chuva.Quero contemplar a Noite. A Lua.A Terra.As Estrelas.As Árvores.A Natureza.Quero contemplar o Dia. O Sol.O Mundo.O Arco-Íris.O Rio...Quero gastar menos.Aprender mais.Ouvir mais.Exigir menos.Quero ter qualidade de vida sem a imposição do consumismo na vida.Quero ser mais condescendente comigo e com os outros.Quero ouvir as músicas que inebria a alma.Que chora.Que canta.Que grita.Que encanta.Quero cantar a vida. Quero comer a vida.Gritar para a vida.Não quero ter a obrigação de acertar sempre.O sempre cansa e impede o movimento.Quero ser a fenda.A ruptura.A quebra.A lacuna.A dúvida.A pergunta.A dubiedade. A contrariedade.Quero ser a efemeridade...Quero desestabilizar os rótulos.Quero questionar o instituído.Quero promover novas formas de ser.Novas formas de pensar.Novas formas de se posicionar.Novas formas de (se) relacionar.Novas formas de (se) enxergar...Quero Ser e enterrar o ter.O ter morre lentamente.Está carcomido pelo tempo. Em estado de putrefação.O Ser ressurge vagarosamente em simbiose com o "Nós"...Nessa relação da vida desloco o que construíram de mim.Sigo.Brigo.Digo.Respiro.Rio.Aproprio...

domingo, 14 de abril de 2013




Os "anormais" da contemporaneidade...

Uma coisa 'irritantemente' irritante no facebook? ( gosto das redundâncias, eu posso usá-las quando quiser) Postagens dos caros "amigos sociais" que subalternizam diferentes pessoas. É o 'negro macaco', a/o mulher/homem obesa,  gay personagem,  pobre,  magricela, as louras, ateu,a empregada doméstica, as dançarinas de funk ou os dançarinos de funk  etc. O que mais me faz pensar sobre isso é o quanto as práticas de exclusão estão naturalizadas em nosso país.Claro, compreendo que ainda temos o ranço da escravocracia no país da copa.Ainda temos um modelo eurocêntrico e talvez até greco de beleza.No entanto, usar das 'inofensivas' brincadeiras para  subalternizar uns e  hierarquizar outros, é muito para mim, não admito. Sei que não vou salvar o mundo ( nem tenho essa intenção), mas, peço por gentileza e consciência crítica, que os meus alunos e alunas, por exemplo, não compartilhem tais posts , pois, não acredito que o meu trabalho de conscientização esteja sendo jogado no lixo durante o tempo que estou em sala de aula e/ou fora dela ( quero acreditar o contrário).Não há essa necessidade de espetacularização através dos risos e das "curtições" que se faz aqui. Pelo fato de postar fotos que deprimem e ofendem o outro não significa que sou popular, pelo contrário, significa que sou imaturo, acrítico e que não tenho consciência coletiva sobre a sociedade que vivo. Bem sei que nas nossas escolas as aulas de Filosofia,Linguagem, História e   Sociologia são negligenciadas.É  uma pena e torna-se lastimável, porque vejo que estamos fabricando sujeitos alienados e autômatos do seu processo social, que só sabem repetir e memorizar fórmulas e números, não pensam e não são capazes de transformar o instituído. Nesse sentido, tornam-se 'universitários da barbárie', que aplaudem e uivam, como animais ferozes dos  círculos romanos.Aclamam a sanguinária violência acerca daqueles que não são a norma.O que penso é que as pessoas estão usando o direito à livre expressão para abusar daqueles que não são o modelo, a referência , a norma, numa tentativa de ridicularizar e violentar pessoas. Lembrem-se, no mundo contemporâneo ou pós-moderno, ninguém é fixo,uno,estável. Dessa maneira, em algum momento as suas identidades colocarão em situação de ser o outro  , o 'estranho', o 'alienígena', o 'forasteiro', o "anormal" , porque nessa relação atual da sociedade, sempre teremos mecanismos contraditórios sobre mim, o outro e o nós!

quinta-feira, 11 de abril de 2013






Antropofagia...

[...]Vivemos em processos antropofágicos na tentativa de comer e vomitar as coisas que (não) nos faz bem.Nesse sentido, assim como os canibais, "como" pessoas que somam na vida e vomito as que não servem para a (des)construção da minha constituição . Constituo pelos processos de dores e dissabores que me interceptam o caminho existencial.Sou da opinião que a nossa vida é às vezes solitária, embora acredite que temos poucos anjos que nos guardam, os poucos e raros amigos, não espero muito das pessoas e nem de mim. Sou fraco e assumo isso e nem quero ser forte, quero ser eu mesmo...Humano . Tenho muito pouco para oferecer às pessoas, mas o que tenho a oferecer é muito pouco nesse "mundo em descontrole",numa visão Giddensana da vida. Ofereço o que posso, as minhas fraquezas, angústias,alegrias ( raras ) e a minha mão para que possamos caminhar nesse labirinto complexo chamado existência. Como viajantes, somos estrangeiros aonde passamos. O importante é seguir e aprender os diversos idiomas afetivos para que não sejamos incomunicáveis e forasteiros em pátrias de outros.