Estou de luto: A educação faleceu e
deixa órfãos à deriva.
Sei que posso ser mal interpretado por
aqui pelo o meu posicionamento, no entanto, tenho o direito de expressão. Estou
de luto, morreram em mim as possibilidades de uma educação de qualidade. Espero
que ela renasça em outros momentos, em outras vidas... Vejo professores
morrendo socialmente no cotidiano, vejo alunos e alunas mortos e mudos sociais.
É tempo de reflexão sobre esse processo complexo. O momento que o professor foi
reconhecido pela sua prática docente foi aproximadamente na década de 50,
quando o seu salário era comparado ao de um juiz. Exigia-se desse profissional
uma cultura ampla, pois, era ensinada na escola elitista arte, literatura,
latim, francês, inglês, etc. Portanto, era uma escola que se fazia admissão
para poucos terem acesso e serem líderes na sociedade. Com o advento da
industrialização no Brasil, foi necessária a criação de uma escola de massas,
pública que colocassem ‘operários’ mais letrados para uso das máquinas. As
fábricas nesse sentido foram o modelo de escola que temos hoje, disciplinadora,
reguladora, em forma de grade o currículo e disciplinas com uma sirene igual às
fábricas. O processo de formação de professores também obedeceu às políticas de
massas, criaram-se em diferentes polos e universidades os cursos de
licenciaturas para que os professores já atuantes pudessem ter curso superior
uma vez que muitos ainda possuíam ensino magistério ou até fundamental (basta
ver o Norte e o Nordeste, por exemplo). Infelizmente, na medida em que foram
criando mecanismos para que outros formassem professores, o nível da oferta e
procura cresceu rapidamente sem se preocupar com a qualidade dessa formação,
resultado: baixíssimo nível cultural formal da maioria dos professores. Então,
foram construídos nessas políticas públicas como meros reprodutores e repetidores,
que não leem um artigo científico por ano, porque trabalham demais, ganham pouco;
trabalha-se em três turnos, não compram um livro científico da suas práticas docentes e sem o livro didático não conseguem dar aulas (outra forma ideológica
que veicula o poder da elite). Os alunos e alunas sem a motivação para ascender
socialmente não vê nesse profissional sinônimo de poder e reconhecimento,
desejando outras profissões (que infelizmente, não conseguem cursar por causa
da concorrência dos vestibulares). Portanto, creio assim como Nietzsche, que é
do caos que nasce as estrelas. Isto é, torna-se necessário o caos para que um
dia (pelo menos daqui um século talvez) haja respeito por esse profissional,
sobretudo das escolas públicas. Acredito que, por mais que alguns formem
professores, poucos querem que os seus filhos sejam também professores; é uma profissão
que os governantes sabem que é trampolim de outras profissões. Veja a
quantidade de contratos no Brasil afora, professores de diferentes áreas
lecionando artes, filosofia, línguas estrangerias e materna etc. Sem possuírem
licenciatura naquela área de atuação, tornam-se reféns do sistema alguns
professores. É uma pena esta afirmativa: brevemente sairei da educação básica. Retirarei
porque no nível que almejo o Estado não me reconhece; a sociedade, idem. Nem os
meus alunos e alunas sugam o que tenho a oferecer pelos caminhos que percorri e
ainda percorro na vida acadêmica. Talvez porque não foi ensinado a pensar e sim
apenas repetir e copiar. Parece que o círculo vicioso continua, basta observar
que a escola que temos configura numa escola dos operários de fábricas que
saibam lidar cada vez mais com aparatos tecnológicos nas indústrias, e pensam
cada vez menos sobre os processos que permeiam a sociedade. Repetem, memorizam,
copiam, esquecem, exceto aprendem, apropriam, transformam, questionam. Como
robôs, não sabem nada além do programado. Assim, de tempos em tempos, temos
aqueles e aquelas que não conseguiram passar em vestibulares de alta
concorrência porque não estudaram e não foram assegurados pelo direito à
educação de qualidade como assevera os documentos oficiais, que, não restando
mais a fazer, cursa uma licenciatura para ter um emprego estável. A maioria
desses alunos são os primeiros da família a possuírem curso superior, então, acham
alguns, já é uma vitória (?) ter um curso superior. Sigo e parabenizo aos meus
colegas de profissão que cada dia tentam transformar a vida, mesmo sabendo que a força da coerção torna-se imperiosa e fatal sem muita chance de transformação.
Quero escolher e abrir as portas para o mundo que escolhi viver!!!