Surreais impressões
do nada
Acordei,
percebi que estava no meio do nada.
Tudo
era cinza, devastado, explorado.
Ouvia
seres, vozes e fantasmas.
Monstros
comiam a si próprios.
Pessoas
diluíam-se a si próprias.
Não
via corpos.
Visualizava
montes de carnes putrefatas.
Não
via gente.
Enxergava
vermes em decomposição.
Olhava
adiante, tudo era soturno.
O
nada, o tudo e ao mesmo tempo o caos.
O
buraco, a vastidão e a sensação.
Aves
de rapina desciam à Terra.
Eram
os comensais, ladrões de vidas.
As
carnes devoradas eram.
Eram
devoradas as carnes.
Os
ossos gritavam-me.
Pediam-me
o auxílio inaudível.
Socorro!
Socorro! Socorro!
Queriam
se libertar da prisão existencial.
No
anseio da libertação, um confidenciou-me,
_nunca
gostei de ser encosto de gente,
_nunca
quis ser suporte de carne,
_
nunca aceitei uma vida pungente,
_
sempre fui e quis ser um silente.
Impingidos
somos todos os dias.
A
ser vermes, ossos e carnes.
Monturos,
restos e sobras de tudo.
Descartam
a todos nos lixões sociais.
Jogam-nos
fora dos olhos sensoriais.
Dormi,
percebi que estava no meio do tudo.
Tudo
era escória, construído, oprimido.