segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Memórias em vigília
É noite, o caos se aproxima de mãos dadas com a insônia.
Vazios existenciais engatinham nas paredes.
Emoções volitam no ar.
Espectros vigiam o corpo.
O corpo vigia os espectros.
Memórias não dormem.
Entorpecem o pensar no passado.
Viver é a tormenta da atualidade.
Existir só se for à dualidade.



Corpossexo
Corpos e sexo.
Homens que transam.
Mulheres que copulam.
Corpos que dançam.
Ventos que balançam.
Vidas que cansam.
Choros que lamentam.
Trabalhos que escravizam.
Lazeres que desumanizam.
Sexo e corpos.
Fedo
Você fede?
O corpo fede.
A alma fede.
As emoções fedem.
O Sexo fede.
O cu fede.
A vagina fede.
A vida fede.
As pessoas fedem.
As coisas fedem.
O ar fede.
A morte fede.
Eu fido?
Dramática vida
Minha vida é marcada pelas letras.
Palavras, vírgulas, reticências.
Subordinadas minha existência ficou.
Assindéticas não ligam-me a ninguém.
Coordenadas o meu eu se deixou.
Substantivas as minhas lembranças se perderam.
Adjetivas os meus amores são dissabores.
Orações e frases existenciais.
Períodos simples e compostos pelo viver-morrer.
Etecetera e outras coisas mais.
São outros homens e outras mulheres.
Ponto final para a vida breve.
Sem circunflexos que não quero marcá-los.


Espectrus
Acordei, estou n’outro mundo.
Orbe de solidão, tristeza e imundície.
Olho pro lado, não vejo ninguém.
Visualizo coisas.
Sem nome, sem vida, sem histórias.
Sem rostos, sem corpos, sem olhos.
Estou sozinho, pensei.
Chega outra persona.
Gargalhando excentricamente.
Dos seus olhos saem vômitos.
Da sua boca escoam lágrimas.
Do seu nariz inebria o fétido cheiro do amor.
Da sua pele o odor da morte e da paixão.
Copulo com essa estranha sensação.
Mito de desejo e negação.
Respiro o seu hálito pútrido.
É do ar que vivo sem rumo.


Memórias mortas
Ouço vozes do passado que me chamam.
Cobram-me atenção por algo que deixei lá atrás.
Ignoro-as e sinto que às vezes o meu corpo sente a punição.
Ele treme, arrepia, expurga.
Grita, horroriza, espernea.
À noite a tormenta inicia.
É quando a sombria calada silencia.
O meu espírito liberto foge do corpo.
O meu corpo vazio implora outro porto.
Não volto, não quero, não revivo.
Não vivo, não durmo e não existo.


Se é ou não é, não sei estar.
Está-se há tempos de antigamente.
Vagando a alma na imensidão do caos.
Vidas e experiências vão fabricando novos seres.
Na história e na memória sou um átimo de tempo.
Não sei se fui ou se estou.
Sei que vou e não pretendo voltar.
Almejo libertar-me dos amores que agrilhoam a alma.
A liberdade da identidade não atrai o meu corpo.

As possibilidades dos mosaicos puxam-me a carne.

domingo, 7 de setembro de 2014

Um sujeito pós-modernizado
Sou um ser totalmente desnaturalizado.
Anormal e também deformado.
Sou um ser fragmentado.
Anormal e também conspurcado.
Sou um ser multicolores.
Anormal e também dissabores.
Sou um ser híbrido: o humano e o monstruoso.
Anormal e também (des)cauteloso.
Sou um ser adorável.
Anormal e também (in)amável.
Sou um ser masculino.
Anormal e também feminino.
Sou um ser bem apurado.
Anormal e também metamorfoseado. 
Ser (a)normal
Queria sentir o normal.
Minh’alma anseia sentir.
Amar para poder existir.
O meu ser almeja sonhar.
Para viver e poder namorar.
Minha face está em pedaços.
Os meus cacos foram jogados ao chão.
Não consigo juntá-los.
Não quero colá-los.
Não sou somente o anormal.


Antíteses da vida
Acordo.
Sem a minha vida...
Não materializo.
Se rio.
Apareço.
Se bebo.
Choro.
Minha vida está em farrapos.
Frangalhos do amor inexistente.
Enganos, promessas, dispensas.
Sem sua vida...
Não existo.
Apago.
Não como.
Sumo.
Não amo.
Durmo.
Pílula da existência
Quando te vi: existi.
Brumas, plumas e sensações.
Amores, pudores, estertores.
Arranhões, grilhões, comichões.
Sumi.

   
Surreais impressões do nada
Acordei, percebi que estava no meio do nada.
Tudo era cinza, devastado, explorado.
Ouvia seres, vozes e fantasmas.
Monstros comiam a si próprios.
Pessoas diluíam-se a si próprias.
Não via corpos.
Visualizava montes de carnes putrefatas.
Não via gente.
Enxergava vermes em decomposição.
Olhava adiante, tudo era soturno.
O nada, o tudo e ao mesmo tempo o caos.
O buraco, a vastidão e a sensação.
Aves de rapina desciam à Terra.
Eram os comensais, ladrões de vidas.
As carnes devoradas eram.
Eram devoradas as carnes.
Os ossos gritavam-me.
Pediam-me o auxílio inaudível.
Socorro! Socorro! Socorro!
Queriam se libertar da prisão existencial.
No anseio da libertação, um confidenciou-me,
_nunca gostei de ser encosto de gente,
_nunca quis ser suporte de carne,
_ nunca aceitei uma vida pungente,
_ sempre fui e quis ser um silente.
Impingidos somos todos os dias.
A ser vermes, ossos e carnes.
Monturos, restos e sobras de tudo.
Descartam a todos nos lixões sociais.
Jogam-nos fora dos olhos sensoriais.
Dormi, percebi que estava no meio do tudo.
Tudo era escória, construído, oprimido.
Tenho o quê?
Tenho os olhos tortos. Mortos, portos, ossos.
Tenho a vida triste. Mortos, postes, ristes.
Tenho o passado envolto. Mortos, tortos, rostos.
Tenho a face encardida. Mortos, entretidas, descabidas.
Tenho o amor morto. Mortos, Encostos, pressupostos.
Tenho o sexo nu. Mortos, ânus, anuns.
Tenho o beijo doce. Mortos, agridoces, acridoces.
Tenho a vida-morte. Mortos, post-mortem, sortes.