Parece-me que atualmente tem-se a obrigação em
ser feliz o tempo todo nos 'faces da vida'. Postagens insossas, já tão
banalizadas o tal 'curte aí e compartilha'. Correntes milagrosas e milagreiras,
frases cada vez mais sem noção, cardápios para todos os gostos, credos e
classes sociais. Indicação de leituras do tipo, “funcionou comigo, vai dar
certo pra você”, simpatias, ‘lorotas’ e ‘balelas’. Perdoem-me os poetas,
pensadores e puristas do face. Peço licença com as suas correntes de autoajuda
e frases prontas e juntamente à minha ignorância para embrenhar nesse breve texto
e dizer que sinto enjoos, que me deixam tonto, por isso, tento escrever, embora
saiba que não sei , ainda. Diante de tudo que tenho visto, ouvido, chego à (in)conclusão
(logo no início do texto, que subversão às ‘normas de redação’), que as redes
sociais estão servindo mais como quintais de bate-bocas de vizinhas
desesperadas, espaços gourmet que demonstram quem pode ou deve cozinhar melhor,
quem usa as especiarias mais sutis ao paladar altamente sofisticado, sendo
também espaço para promoção profissional
e arenas de discursos que demonstram o seu lugar social. Vejam bem porque
afirmo tal disparate: “cursei tal curso em instituição de renome”, “participo
de congressos em minha área de atuação”, “Eu posso isso, posso aquilo”, ‘tenho isso,
tenho aquilo”, fotos, fotos, fotos, são credenciais para o mundo pós-moderno?
Eu CONSUMO e posto fotos: de carros, viagens, restaurantes, amores(?) , dissabores...E
de muita tecnologia. Confesso que já me rendi e outros também se renderam às ‘necessidades’ criadas pelo Capitalismo: “tenha
um lap top, um personal computer” (PC em constante falecimento), “um i Pad, um
Tablet, um Smartphone e terá a sua rede social atualizada, curtida e
compartilhada por vários amigos”. Ao dizer CONSUMO, acredito que sumo mesmo no que sou, para ser alguém ‘fabricado’
pelas relações cotidianas naturalizadas , marcadas talvez, pelo bélico prazer em apagar o outro,
seja na concorrência de popularidade no virtual, ou não, seja numa beleza
legitimada e reforçada , seja naquilo que mostro na rede, no mural, no meu perfil,
seja na vida etc. Com isso, apagando denegrindo , discriminando, subalternizando
o outro, coloco o meu EU Visível (percebam,
o meu ‘EU’ é maior que o ‘outro’). Assim, cria-se a necessidade de estar
alegremente feliz, realizado, para impingir no outro o fracasso, afinal, eu tenho
e você não tem, eu posso consumir e você não, pois não é um ‘vencedor’, como EU SOU. Inicia-se nessa lógica, as ‘postagens felizes’ como
forma de criar sentidos de quem sou ou de quem poderei ser no que você vê.
Postagens ‘alegres’ não é problema algum, isso não cansa muito e não é tão ruim assim. Mas, a
maneira como as práticas sociais vão se enveredando nessa rede é que acho
chata, perigosa e sutil. Ao pensar em espaços, penso aqui
nesse texto em espaços híbridos, como aqueles que
interpenetram as ‘redes virtuais’ e o cotidiano das pessoas, em intensa (re)formulação e
atualização. Nesse sentido, o que se percebe no face, é que este, é um território ‘livre’,
um lugar de espaços democráticos, em que culturas e ‘pedagogias’ ( do amor, do silêncio, da
religião, do lazer, da felicidade, das fórmulas, dos modelos,etc.) se (des)constroem
de diversas formas formando ou opinando sobre as
maneiras que o outro nos vê e/ou nos projeta.
Se ‘vendo o meu peixe’ bem através de fotos e atualizações, então serei bem
aceito no ‘royal society virtual’. Isso significa dizer que posso transitar por
lugares que permitem que tenha muitos ‘amigos’ e ‘seguidores’, o que para mim
são como encostos que arruínam a sua vida. Sou da opinião de Ney Matogrosso de que
não precisamos ter seguidores/encostos na vida, afinal, já somos bombardeados o
tempo todo a mostrar aquilo que não somos através do que consumimos, relacionamos ou
apropriamos. Para quê quantidade de ‘pessoas amigas’ que não nos relacionamos
nem um dia do ano? Para dizer que se é popular? Não tomamos nem um café, água,
refrigerante, cerveja, vinho com a metade das pessoas que adicionamos na rede,
elas nem sabem o quanto são importantes, ou quem somos, pois, não estamos com elas,
apenas zapeamos com elas na rede, depois, num clique, desconectam-se a todos através
da exclusão do ‘amigo’. Não entendo, confesso e peço perdão por tamanha ignorância.
Para
aqueles também que estão em constante 'FELICIDADE', ‘ALEGRIA’ e ‘LAZER’, na
rede, peço desculpas por tamanho pessimismo. Embora alguns defensores da felicidade,
da alegria exacerbada, gratuita e insossa podem não gostar do que delineei por
aqui nesses breves vômitos (sinto-me aliviado, o enjoo passou), não me importo
e até respeito o seu direito de não gostar do que leu. Compreendo que para
alguns, os seus ‘lazeres’, suas ‘felicidades’ e ‘alegrias’ nada mais são que extensão
do trabalho que transita numa rotina administrada, governada, regulada e
reificada, sem sentido, pobre realmente de sentido. Nesse “mundo em descontrole”,
tudo é líquido, os amores, as relações, os afetos. Uma pena, porque o que se
torna sólido é somente o ter e o consumir, nada mais. Dessa maneira, vivem-se tempos
em que as pessoas têm medo de estar com elas mesmas, preferem estar rodeadas
por multidões liquefeitas, que as transformem em coisas sem nome, sem estórias nem
memórias e afetos... E assim, enquanto puder fazer as escolhas sobre mim, quero
o mínimo de shows e espetáculos de mim mesmo nas relações sociais em que me (des)localizo.
Não quero que a ‘rede social face’ retire a minha face ou me desfigure. Não
quero olhar no espelho da vida e não me reconhecer nessa vida, nesse mundo. Não
quero ter obrigação de sentir a felicidade ou de ostentá-la o tempo todo na
rede, como se não pudesse ter espaços de
tristeza ou solidão em minha VIDA. Não quero ter a obrigação de estar alegre ou
‘lazear’, porque a lógica da sociedade hodierna é vender sorrisos e caricaturas
para o consumo feliz do ser, que um dia foi Humano.
by Aldo Fernandes! texto publicado no facebook no dia 17 de nov de 2012