terça-feira, 27 de novembro de 2012




Onde estará você?


Onde estará você?
Que um dia em sonho prometeu.
Onde estará você?
Que um dia reencontraria a mim.
Onde estará você?
Que acolhe as minhas angústias nas noites gélidas.
Onde estará você?
Que me afaga quando a vida me deixa descoberto.
Onde estará você?
Que me acolhe em seu regaço.
Onde estará você?
Anjo viajor do tempo e do espaço.
Onde estará o meu amor?
Ouça o meu grito.
Venha me beijar.

Abafe a dor que dilacera a minh’alma.  
by Aldo Fernandes!









Alma abafada
Sinto um abafar na alma.
A alma quer gritar.
Gritar ao mundo a sua existência.
Não pode gritar.
É abafada pelas normas e convenções.
Não vive. Não ama. Não chora. Não sente.
Tristeza. Angústia. Medo. Dor.
Tristeza na multidão.
Angustia na solidão.
Medo no coração.
Dor não tem solução.
                           by Amun!

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Memórias digitais...





Nasci...

Cresci.
Amadureci.
Cansei de crescer, amadurecer...
Estou entediado das maneiras de ser o mesmo.

Não quero ser o mesmo no próximo segundo.
Cansei de ser igual.
Cansei de ser o diferente.
Cansei de mim.
Cansei dos outros. 
Quero ser outros. 
Quero ser ou não ser outros...
Quero poder escolher.

Escolher ser ou não ser outros.
Escolher ser ou não ser eu.
Tenho a grande urgência em gostar do novo e do velho.
O novo me vitaliza.
O velho me fortalece.
Sou saudosista. 
Sou intimista.
Sou do passado.
Estou no presente.
Presente digital.
Caminho para o futuro...
Sou ou não sou...

Estou?
Quero escolher.

Máquinas não escolhem.
AUTOMATIZAM...
Tenho fome. 
Fome de pessoas.
Tenho sede. 
Sede de pessoas.
Realmente tenho fome de pessoas.
Realmente tenho sede de pessoas.
Máquinas não sentem fome.
Máquinas não sentem sede.
Máquinas não veem.
Não vejo pessoas.
Vejo máquinas. 
Vejo seres CIBERNÉTICOS.

Acessados, Conectados, Energizados, Plugados, Linkados...
Desconectados. Automatizados.
Sinto fome.
Sinto sede.
Estou insaciável...
A última vez que comi pessoas foi há tempos de outrora.

Comia a vida. 
A última vez que bebi pessoas foi há tempos de outrora.
Bebia a experiência.
Embebia do licor que corria nas veias existenciais dos outros.

Embriagava de sentimentos...
Em extinção esses sentimentos...

Agora não sinto.  
Não como. 
Não bebo.

Sou assim...
Estou assim...
Morto de fome. 
Morto de sede.
Morto de fome das pessoas que me encantavam a vida.
Morto de sede das pessoas que me nutriam no cotidiano da existência.

Morrerei de inanição. 
Sinto isso.
A morte se aproxima de mim...
Não trairei o que acredito.
Creio que nutri do que precisava para morrer...

Creio que comi do que precisava para viver...
Comi pessoas...
Bebi experiências...
Aprendi.

A morte chegou...
Morri.



by Amun!


sábado, 17 de novembro de 2012

CADÊ A SUA E A MINHA FELICIDADE? O OUTRO FURTOU E POSTOU NO FACE!



 Parece-me que atualmente tem-se a obrigação em ser feliz o tempo todo nos 'faces da vida'. Postagens insossas, já tão banalizadas o tal 'curte aí e compartilha'. Correntes milagrosas e milagreiras, frases cada vez mais sem noção, cardápios para todos os gostos, credos e classes sociais. Indicação de leituras do tipo, “funcionou comigo, vai dar certo pra você”, simpatias, ‘lorotas’ e ‘balelas’. Perdoem-me os poetas, pensadores e puristas do face. Peço licença com as suas correntes de autoajuda e frases prontas e juntamente à minha ignorância para embrenhar nesse breve texto e dizer que sinto enjoos, que me deixam tonto, por isso, tento escrever, embora saiba que não sei , ainda. Diante de tudo que tenho visto, ouvido, chego à (in)conclusão (logo no início do texto, que subversão às ‘normas de redação’), que as redes sociais estão servindo mais como quintais de bate-bocas de vizinhas desesperadas, espaços gourmet que demonstram quem pode ou deve cozinhar melhor, quem usa as especiarias mais sutis ao paladar altamente sofisticado, sendo também  espaço para promoção profissional e arenas de discursos que demonstram o seu lugar social. Vejam bem porque afirmo tal disparate: “cursei tal curso em instituição de renome”, “participo de congressos em minha área de atuação”, “Eu posso isso, posso aquilo”, ‘tenho isso, tenho aquilo”, fotos, fotos, fotos, são credenciais para o mundo pós-moderno? Eu CONSUMO e posto fotos: de carros, viagens, restaurantes, amores(?) , dissabores...E de  muita tecnologia. Confesso que  já me rendi e outros também se renderam  às ‘necessidades’ criadas pelo Capitalismo: “tenha um lap top, um personal computer” (PC em constante falecimento), “um i Pad, um Tablet, um Smartphone e terá a sua rede social atualizada, curtida e compartilhada por vários amigos”. Ao dizer CONSUMO, acredito que  sumo mesmo no que sou, para ser alguém ‘fabricado’ pelas relações cotidianas naturalizadas , marcadas  talvez, pelo bélico prazer em apagar o outro, seja na concorrência de popularidade no virtual, ou não, seja numa beleza legitimada e reforçada , seja naquilo que mostro na rede, no mural, no meu perfil, seja na vida etc. Com isso, apagando denegrindo , discriminando, subalternizando o outro, coloco o meu EU Visível (percebam, o meu ‘EU’ é maior que o ‘outro’). Assim, cria-se a necessidade de estar alegremente feliz, realizado, para impingir no outro o fracasso, afinal, eu tenho e você não tem, eu posso consumir e você não, pois  não é um ‘vencedor’, como EU SOU. Inicia-se  nessa lógica, as ‘postagens felizes’ como forma de criar sentidos de quem sou ou de quem poderei ser no que você vê. Postagens ‘alegres’ não é problema algum, isso  não cansa muito e não é tão ruim assim. Mas, a maneira como as práticas sociais vão se enveredando nessa rede é que acho chata, perigosa e sutil. Ao pensar em espaços, penso   aqui nesse texto em   espaços híbridos, como aqueles que interpenetram as ‘redes virtuais’ e o cotidiano  das pessoas, em intensa (re)formulação e atualização. Nesse sentido, o que se percebe  no face, é que este, é um território ‘livre’, um lugar de espaços democráticos, em que culturas e  ‘pedagogias’ ( do amor, do silêncio, da religião, do lazer, da felicidade, das fórmulas, dos modelos,etc.) se (des)constroem   de diversas formas formando ou opinando sobre as maneiras que o outro  nos vê e/ou nos projeta. Se ‘vendo o meu peixe’ bem através de fotos e atualizações, então serei bem aceito no ‘royal society virtual’. Isso significa dizer que posso transitar por lugares que permitem que tenha muitos ‘amigos’ e ‘seguidores’, o que para mim são como encostos que arruínam a sua vida. Sou da opinião de Ney Matogrosso de que não precisamos ter seguidores/encostos na vida, afinal, já somos bombardeados o tempo todo a mostrar aquilo que não somos através do que consumimos, relacionamos ou apropriamos. Para quê quantidade de ‘pessoas amigas’ que não nos relacionamos nem um dia do ano? Para dizer que se é popular? Não tomamos nem um café, água, refrigerante, cerveja, vinho com a metade das pessoas que adicionamos na rede, elas nem sabem o quanto são importantes, ou quem somos, pois, não estamos com elas, apenas zapeamos com elas na rede, depois, num clique, desconectam-se a todos através da exclusão do ‘amigo’. Não entendo, confesso e peço perdão por tamanha ignorância.   Para aqueles também que estão em constante 'FELICIDADE', ‘ALEGRIA’ e ‘LAZER’, na rede, peço desculpas por tamanho pessimismo. Embora alguns defensores da felicidade, da alegria exacerbada, gratuita e insossa podem não gostar do que delineei por aqui nesses breves vômitos (sinto-me aliviado, o enjoo passou), não me importo e até respeito o seu direito de não gostar do que leu. Compreendo que para alguns, os seus ‘lazeres’, suas ‘felicidades’ e ‘alegrias’ nada mais são que extensão do trabalho que transita numa rotina administrada, governada, regulada e reificada, sem sentido, pobre realmente de sentido. Nesse “mundo em descontrole”, tudo é líquido, os amores, as relações, os afetos. Uma pena, porque o que se torna sólido é somente o ter e o consumir, nada mais. Dessa maneira, vivem-se tempos em que as pessoas têm medo de estar com elas mesmas, preferem estar rodeadas por multidões liquefeitas, que as transformem em coisas sem nome, sem estórias nem memórias e afetos... E assim, enquanto puder fazer as escolhas sobre mim, quero o mínimo de shows e espetáculos de mim mesmo nas relações sociais em que me (des)localizo. Não quero que a ‘rede social face’ retire a minha face ou me desfigure. Não quero olhar no espelho da vida e não me reconhecer nessa vida, nesse mundo. Não quero ter obrigação de sentir a felicidade ou de ostentá-la o tempo todo na rede, como se não pudesse  ter espaços de tristeza ou solidão em minha VIDA. Não quero ter a obrigação de estar alegre ou ‘lazear’, porque a lógica da sociedade hodierna é vender sorrisos e caricaturas para o consumo feliz do ser, que um dia foi Humano.  

                                  by Aldo Fernandes!  texto publicado no facebook no dia 17 de nov de 2012