segunda-feira, 4 de abril de 2011

QUERO UMA VIDA QUE NÃO SEJA MINHA, QUERO UM ESPETÁCULO!



Adoro o momento atual da sociedade. Momento este que nos faz perceber o quanto somos espectadores do nada, daquilo que não serve nem pra limpar a boca; guardanapo inútil, palito de restaurante, após a refeição... O espetáculo e a teatralização do “eu”. Basta acreditar no príncipe encantado que me impõem goela abaixo desde os tempos de criança, pra perceber que devo mais que tudo, atender às expectativas da família, do ser amado, enfim... ”quero casar” e alguns dizem que anseiam pelo casamento dos sonhos, com direito a ser chamados de príncipes e princesas, ops, sou pós- feminista: primeiro as princesas, depois, os sapos transformados! Questionei no domingo, dia 03 de abril de 2011, o amor, o casamento e a “felicidade” a partir do enlace matrimonial instituído. Estava em casa, entediado, sem nada pra fazer, afinal, o ócio é necessário. Primeiro, o tom de medievalidade da reportagem. A televisão mostra um casal feliz que segundo o destino, “maktub”, estava escrito nas estrelas. O sonho do casal era ser diferente; viver um papel social pelo o qual não pertenciam: o de realeza. Até aí tudo bem, mas querer que tod@s estivessem com roupas medievais, “pra cabar”. Percebi que precisava prestar mais atenção na “reportagem arte”. Era algo muito instrutivo para um domingo no canal aberto. Vislumbrei a “espetacularização do eu”, não é meu isso, tomo o conceito de Guy Debord em "A sociedade do Espetáculo". Somos tentados o tempo todo a expor um “eu” que “constrói a sim mesmo nas relações que se estabelece”. Ou seja, o espetáculo “não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”, nas palavras de Debord. Cult isso não?... Casar na sociedade pós- moderna, afinal, o que é mesmo essa pós-modernidade? Deixo isso para os teóricos, ainda não me apropriei disso. Enfim... Voltando ao casamento, posto que casar agora na sociedade atual é permitir uma teatralização de mim e do outro, porque nessa perspectiva, posso ser o Sr Smith e a Sra Smith, com direito à pipoca, e muito mais. Fecho o cinema, transito no shopping, dou até tchau, como se fosse realmente uma pessoa realizada no dia mais importante de minha vida: o dia que encontrei a metade da laranja, mesmo que azeda e tardia. Dizem alguns, “antes casar que ficar pra titia”. Os cincos minutos de fama valem a qualquer preço, ora essas, mesmo que não fui selecionado para o BBB, quero aparecer, de qualquer jeito... Não faço juízo de valor sobre a Instituição Sagrada do casamento, questiono somente a necessidade pulsante de o outro querer um espetáculo, uma vida que não é sua e que não é nada mais que uma personagem, irreal, com pessoas e cenários construídos; assim como tudo na mídia: beleza, valores, corpos, e até uma cidade de búzios que todos os pobres da novela têm acesso. Isso é a realidade? sei não... é chega, fica pra outro dia, outros devaneios virão ... Por hoje é só, vamos ser expectadores de nós mesmos e de outros, como um flâneur, que observa não somente as ruas, mas a vida, o cotidiano, o escondido, o temido, o negado. Observemos as ruas do virtual, do midiático, do implícito e depois, chamemos um “eu” mais crítico, que não está somente preocupado em ser aceito nos palcos da tv, do orkut, ou do “jornalismo arte” impostos a uma massa feliz, que não questiona nada...

Viva o espetáculo e que as cortinas nunca sejam cerradas!!! Afinal, quero também fazer parte do elenco, mesmo que seja um figurante, sem voz, sem identidade!

by Aldo Fernandes

Um comentário:

Pedro Faria disse...

E viva a espetacularização do ridículo, a exaltação do nada, a celebração do vazio...