Lembro-me do ano de 1997, quando passava
na porta da Uniana, futura Universidade Estadual de Goiás (1999) e sonhava em
fazer parte daquele espaço acadêmico. Entrei naquele ambiente e visualizava as
pessoas sempre correndo com os seus livros e saberes. Ainda que houvesse parado
de estudar regularmente em rede básica de educação, sempre tive muita
curiosidade em aprender e, instruir-se para mim se perfazia em todos os
sentidos, seja com a escuta do outro, a observância do mundo etc. Lia uma média
de 100 livros ao ano porque sempre fui muito fascinado pelo universo paralelo
que os livros proporcionam, embora leitor tardio, pois o primeiro livro lido foi
aos treze anos de idade. Ao terminar o ensino médio em 2004 no Colégio Estadual
José Ludovico de Almeida, cuja escola atualmente sou professor efetivo estadual
e após descanso de dois anos, resolvi cursar Letras, conquanto quisesse Letras/Francês,
segui Letras/Inglês, deixando a Psicologia (curso que me fascina e sempre foi o
meu sonho) em segundo plano. No ano de 2007 adentrara os portões da
Universidade Estadual de Goiás para dar início ao curso acadêmico na cidade de
Inhumas-GO, local que saíra com a família aos quatro anos de idade rumo à
Anápolis-GO. Estava inseguro e encantando ao mesmo tempo com tudo que divisava.
Conheci pessoas maravilhosas, dentre elas, Pedro, Leandro, Celina, Aline,
Sergio, Henrique. Com essas joias foram momentos de intensos risos e discussões
profícuas na praça defronte àquela instituição. O cheiro bucólico da cidade, o
café feito no coador de pano da dona Maria, o alho (que adoro) em neblina
matinal e o cheiro de pasto molhado quando chovia, até hoje inebriam os meus
sentidos. Confeccionei naquele ano inicial de curso o meu primeiro texto
acadêmico para o professor Me. Wilmar Faria sobre o filme “Os deuses devem
estar loucos”. Ao entregar a resenha ele disse-me algo que marcara para sempre
o meu pensamento –A sua escrita denota
que você tem muito potencial para fazer um mestrado. Sorri sentindo-me
importante, pois havia chegado na 41ª vaga do curso, era aluno de segunda
chamada no vestibular e isto era um rótulo social. Não dei muita importância
após o êxtase de sua fala e segui adiante. Um dia, foram comigo até a UFG
participar de evento na Faculdade de Ciências Sociais, os meus queridos amigos
Léo e Pedro. Ao ver a magnitude da UFG fiquei extasiado e pensei: quero um dia
estudar aqui. O tempo passou, transferi em 2008 para a cidade de Anápolis e
conheci a professora Dra. Keila Matida com quem tive o presente de conviver
alguns meses. Um dia, a docente em conversa deliciosa, como tantas outras nos
corredores da universidade, disse-me que seria ainda uma pessoa de sucesso e
que via um caminho de muita coisa boa trilhado por mim. Neste ínterim, queria
desistir do curso porque pensava não haver afinidade com o curso de Letras e a
professora Dra. Glaucia Vieira falou –Ah, não vá desistir do curso Clodoaldo,
porque você já é um professor. Aquelas palavras ecoaram abruptamente de tal
maneira, que não consegui responder nada. Também tive a honra de conhecer a
professora Dra. Ivonete Bueno que mostrou novo sentido para a área de Letras,
com as suas lentes discursivas foucaultianas atentas e transgressivas, percebi
que poderia ser “um mais” na vida –ela adorava citar Foucault. No dia da minha
defesa do TCC, antes de adentrar a sala a pesquisadora continuou –Será um
sucesso, não se preocupe, você compreende do que fala porque estudou. Realmente
ela sabia das coisas. Dentre tantas outras conversas, duas ficaram marcadas no
discurso da querida professora e agora amiga, quando disse-me –Clodoaldo ao
trafegar em Paris só vejo você sentado naqueles bancos, andando naquelas ruas e
contemplando a paisagem. Você vai muito longe, não te vejo aqui por muito tempo,
ouça o que digo. Diante do que foi dito eu somente sorria e os olhos brilhavam
como sempre pelo amor inexplicável por aquele país e aquela cidade. Lembro-me
de outro dia, ao despedir-se de mim momentos antes de embarcar/mudar-se para a
Irlanda, em Galway, Ivonete disse em uma sala na UEG –Você não deixe de
estudar, fazer o seu mestrado e depois o doutorado, porque não haverá lugar que
satisfaça a sua curiosidade em aprender. Não tenha medo porque ninguém será
páreo com você, te conheço e sei do que falo. Você é um ser que nasceu para trazer
brilho por onde passa e é isso que faz de você único. Emocionei-me muito com
aquelas palavras traduzidas em despedida. No ano de 2012, após passar por um
acirrado processo seletivo na UEG para a primeira turma de Mestrado em
Educação, Linguagem e Tecnologias, uma pessoa muito querida aceitou pesquisar
nas fronteiras proibidas comigo, era o professor Dr. Ary. Aprendi tanto com ele
nas trocas acadêmicas. O seu apoio e a maneira que me construía
identitariamente, dava-me a certeza que poderia seguir adiante. Concluí o curso
com muito êxito no ano de 2014, precisamente no dia 07 de março e sempre, em
todos os momentos, a mão amiga do meu querido Rogerio amparava as minhas
dúvidas e inseguranças em relação a tantas coisas da existência. Com ele
percebi também o que é generosidade. Como a sua história de vida é parecida com
a minha. Percebo que precisamos recusar muito o que somos para chegarmos onde
estamos. Entendi que crescer é uma força imperiosa que às vezes dói, dói porque
muitas pessoas podem também nos machucar, perseguir porque não acolhemos o dado
como natural nas nossas relações; questionamos tudo, queremos aprender. Poucos
compreendem sem o julgamento o que é não aceitar o que temos para buscar o que
queremos. Tive apoio de muitas pessoas que materializo aqui a gratidão neste
breve relato, alguns de minha família, poucos amigos e o meu querido tio Virgílio.
Sendo assim, para encerrar, quero comunicar muito feliz, que após concluir o
meu mestrado, pude ser aprovado em primeiro 6º lugar em mais um concurso
público, desta vez para docente de ensino superior na UEG e hoje, dia 25 de
novembro de 2014, sou presentado em lugar após três fases concorridíssimas,
para o curso de DOUTORADO em Linguística
na Universidade Federal de Goiás!!!!! Tenho muita gratidão e alegria a
quem me estendeu a mão amiga neste caminho cheio de pedras. Digo ainda que
quantas tiverem, as retirarei todas, mesmo que as minhas mãos precisem sangrar.
Helen, amiga querida, obrigado por tudo,
você é um dos presentes que a UEG me deu no curso!!!!
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