Comer pessoas
Quando nasci senti fome, não chorei.
O meu estômago clamava por comer.
Era muito novo para degustar.
Os meus gostos eram insossos.
Aprendia a decifrar os meus sentidos aos poucos.
Hoje como e degusto.
Devoro vidas-narrativas.
Abocanho experiências-pessoas.
Engulo memórias-existências.
As pessoas com que coexisto dão-me sabor ao engoli-las.
Com quem convivo, vivo.
Com quem coexisto, sinto.
O meu estômago está curado porque comi pessoas.
As ditas cujas são bálsamo para a acidez da vida.
Clô Fernandes
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